o de sempre

"Conheço-me? não me conheço? estou baralhado de todo? Ou fui sempre"
Luiz Pacheco

o de sempre

segunda-feira, fevereiro 26, 2007
Canto vigésimo quarto

A cona é uma teia de aranha
um funil de seda
o coração de todas as flores;
a cona é uma porta
que leva sabe-se lá onde
uma muralha
que se deve abater.

Há conas alegres
conas completamente loucas
conas espaçosas ou acanhadas,
conas de tostão e meio
bisbilhoteiras ou balbuciantes
e as que bocejam
sem dizer palavra
mesmo se as matas.

A cona é uma montanha
branca de doçura,
uma floresta onde lobos circulam,
a carroça que puxa os cavalos;
a cona é uma baleia vácua
plena de escuridão e pirilampos;
a algibeira do pássaro
sua touca de dormir,
um forno que tudo consome.

A cona no momento certo
é a face do Senhor,
a sua boca.

Pela cona nasceu
o mundo, com árvores, nuvens, o mar
e os homens, um de cada vez,
de todas as raças.
Da cona veio também a cona
Diabos levem a cona!

Tonino Guerra em "O Mel"

quinta-feira, fevereiro 22, 2007
" Eu tenho a minha dor
A sala, o quarto,
A casa está vazia.
A cozinha, o corredor.
Se nos meus braços,
Ela não se aninha,
A dor é minha, a dor."
Marisa Monte/Arnaldo Antunes


Maldição

Que destino ou maldição
Manda em nós, meu coração,
Um do outro assim perdidos?
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos!

Nesta luta, nesta agonia
Canto e choro de alegria
Sou feliz e desgraçada!
Que sina tua, meu peito!
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo e não tens nada!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007
O dia em que a certeza se prendeu a mim e eu engoli-a
para nunca mais a largar e ficar-me no sangue.



quinta-feira, fevereiro 15, 2007
"- Não será possível que o dissabor doméstico, distinguindo-o de desfasamento cultural, não tenha nada a ver com o facto de me ter apaixonado por ti? Não será possível que eu não esteja tão sobrecarregado com tudo isso como tu estás e que, portanto, tenha menos a dizer sobre isso? não será possível que a minha cruz esteja noutro lado?
- Foi o desfasamento cultural que te levou a isto. É isso que estás a dizer?
- Talvez qualquer coisa como isso.
- Importas-te de ser um pouco mais preciso, por favor?
- Como dizem num idioma mais sucinto que o nosso, Il faut coucher avec son dictionnaire.
- Então e a nossa não é uma história de amor, de facto, é uma história cultural. É essa que te interessa?
- Essa interessa-me sempre.
- Isso explica as mulheres gentias, não é? Apaixonas-te pela antropologia?
- Podia ser pior. Sabes, há outros modos de abarcar diferenças antropológicas. Há o velho ódio estabelecido. Há a xenofobia, a violência, o assassínio, há o genocídio...
- Assim, tu és o Albert Schweitzer da foda cultural cruzada.
- Bom, não tão santo como isso. Basta ser o Malinowski"


Philip Roth em Traições

Corrida de obstáculos

Depois de Cavaco ainda há o tribunal constitucional e os objectores de consciência...
Diz o outro bom senso que até ao lavar dos cestos ainda é vindima...
Por isto o meu meio sorriso no dia 11.

terça-feira, fevereiro 13, 2007
Ainda brinquei com a areia nas botas...

Mas faltavas tu para dar por isso.
Haverá mais de dois meses.

domingo, fevereiro 11, 2007
O melhor debate dos últimos tempos!



sábado, fevereiro 10, 2007
São 0:40, o dia já é 10 de Fevereiro.
Hoje já não há campanha e exige-se reflexão.

A minha reflexão é impeto, impulso imenso de andar pelas ruas a gritar:

"Foda-se! Chega de hipocrisias e falsas morais... é SIM que voto!!!"


Ia publicar uma foto da minha mãe, mas ela não gosta de se mostrar "publicamente". Fica aqui a intenção.

terça-feira, fevereiro 06, 2007
Loa ao Sangue



Your weak hands

You held my hand
Led me to the water
You pushed me in
I went under
They were your firm hands
That made me falter
You held my hand
Led me to the altar
You wept for me
Lord, absolve her
They were your weak hands
That made me stronger
You held my hand
Led me homeward
I looked for you
You were nowhere
Holding tight my hand
Was my own

Azure Ray