o de sempre

"Conheço-me? não me conheço? estou baralhado de todo? Ou fui sempre"
Luiz Pacheco

o de sempre

quinta-feira, junho 28, 2007
Fazes-me um favor

- Fazes-me um favor?
- Que tipo de favor?
- Guardas os meus aviõezinhos durante todo o recreio?
- Durante todo o recreio?
- Sim, que tu és o meu céu.


Jairo Aníbal Niño "A alegria de Gostar" AudioLivro Boca

segunda-feira, junho 25, 2007


Se um dia regressares, a terra estremecerá na memória

de tua ausência. E a água formará um vasto oceano no outro

lado do teu olhar.

Regressarás, talvez, quando o ar se tornar rubro em redor

do meu sono - e o lume das horas, a pouco e pouco,

saciar a boca que clama pelo teu nome.

Encontrar-nos-emos nas imagens deste jardim de

afectos e de ódios. Porque os jardins são labirínticas arquitecturas

mentais, onde podemos rasgar os corpos de

qualquer voragem do tempo.

Por isso, enquanto não regressas, construo jardins de

areia e cinza, jardins de água e fogo, jardins de répteis e de

ervas aromáticas, jardins de minerais e de cassiopeias -

mas todos abandono à invasão do tempo e da melancolia.

Mas se um dia regressares, passeia-te por dentro do

meu corpo. Descobrirás o segredo deste jardim interior -

cuja obscuridade e penumbras guardaram intacto o

nocturno coração.


Al Berto em "Dispersos" p.66

sábado, junho 23, 2007
Matinée


Pedido ao ventre... nossos!



De Michelangelo Pistoletto

quinta-feira, junho 21, 2007

tenho uma hora no dia em que me cai o peso da certeza que sem ti não vale a pena.

domingo, junho 17, 2007
Tenebroso Zapping!!!!

voltar a ver a teresa guilherme na tv
ver a teresa guilherme a representar
ver a teresa guilherme a beijar o rui mendes

... a imagem persegue-me, "I can see teresa guilherme kissing"
... porque é que ninguém me disse que isto ficava para sempre!!!!!?????

por favor, clemência!!! uma dose por intravenosa de gena rowlands!


sábado, junho 16, 2007
Era impossível não transcrever

'Não fosse um livro como este, com o seu raro poder de corrosão e de denúncia, e Gisberta Salce esperaria agora a sua segunda e definitiva morte - o esquecimento - tão indefesa como esteve perante o horror da primeira:

"Mas Agora Agora
ecoa a tua voz
e já ninguém te ouve
a não ser eu
Agora
eu não sei como será
eu Não escrevo romances
eu nem sequer a minha história" (págs. 52-53).

É por estas e por outras que Alberto Pimenta (felizmente) não será galardoado com o Prémio Camões. Nunca perguntem a um homem livre em que metal prefere que lhe façam as grilhetas.'

Recensão de Manuel de Freitas ao livro de Alberto Pimenta "Indulgência Plenária" da & etc.

Enquanto isto a Patti Smith cantava na sua calma acidez

"All for freedom and for pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world"

Tears for Fears "Everybody wants to rule the world"

terça-feira, junho 12, 2007
...mas esta podia ser eu, com fome atrás das tuas mãos cheias de medo.
e esta podias ser tu a vestires a minha cor negra - como se fosse tua... como se fosse tua - que trago sempre


Isabel Lhano - Presságio


domingo, junho 03, 2007
Nobel Vs TV
Knock Out no 1º round

Local: Feira do Livro
Hora: 16:45
Condições Climatéricas: Demasiado Calor

Ontem era dia de aútografos na feira.
Na respectivo espaço da respectiva editora, josé rodrigues dos santos lutava com o suor que lhe caía em bica, com as canetas bic que não escreviam o seu nome de forma fluida nas primeiras folhas dos seus livros, que os seus admiradores transportavam nas mãos suadas, nos sacos cheios, nas mochilas velhas, ou seguravam entre pernas enquanto tiravam o papel do gelado dos filhos ou lhes limpavam a imensa nódoa de chocolate que já estava arrumadinha na t-shirt. O autor levantava a cabeça e sorria cada vez mais amarelo, com o tamanho da onda de gente que se aproximava de livros em riste (ou entre pernas, já referi?)... aquilo era um bom tsunami de população que se aproximava. avidos de mais pormenores lúbricos que juntem sopa de peixe e um felliniano/amarcordiano par de mamas

Metros abaixo, poucos metros abaixo, a banca de autógrafos do nosso respectivo nobel, partilhada com mais duas senhoras que durante muitas horas me acompanharam na infância, a sô dona ana maria magalhães e a sô dona isabel alçada (ainda ontem me apeteceu comprar mais um volume da colecção e saber como ia a vida daquela gente, se as gémeas se tinham tornado numas pitas insuportáveis, se o xico se tinha perdido na má vida, se o pedro tinha ido para o técnico ou para a fct, se o joão se tinha assumido e finalmente se o faial e a caracol já tinham dado ninhada, mas ficou tudo por descobrir. Talvez hoje), mas falava então do nobel e da sua banca... como estava vazia, nem meio metro de fila e quem se chegava levava um número do "uma aventura"... cabisbaixo, a deixar os óculos escorregarem até à ponta do nariz, saramago rabiscava numa folha A4, qualquer coisa pequena de morfologia irregular. não me aproximei para tentar resolver o problema levantado pela minha curiosidade, limitei-me a cogitar solitariamente se desenharia lanzarote, se estaria com saudades do vulcão, ou se se entregava a outras erupções e tentava desenhar alguma parte de pilar, que os anos e as muitas dioptrias tinham feito esquecer a forma.

No meio de tudo isto encontrei um ponto em comum, tanto o sr. tv como o sr. nobel usavam canetas bic... fiquei contente, porque foi com elas que aprendi a escrever, mas logo depois me surgiu a aflição. será isto premonição de uma tarde encalorada de demasiado sol com magotes de bicheza a querer o meu rabisco, ou estarei eu daqui a uns valentes tempos debaixo de uma sombra alheia com os meus oitenta e muitos a desenhar uma lanzarote qualquer?
Distraí-me com uma senhora a dizer "ai que horror!! tantos livros!!!!" e não pensei mais no assunto.